Sim, você tem chakras, centros rodopiantes da sua energia fluida — e se não os percebe, é como aquela pessoa que sai procurando os óculos sem notar que os está usando, ou quem tenta achar o relógio sem lembrar de olhar o próprio pulso. Aquilo que faz parte do quotidiano passa desapercebido, por mais importante que seja, como respirar.
Os chakras giram, giram. Chakra, em sânscrito, significa roda, e é essa aparência deles. São como cidades no imenso país que é cada ser humano, mas ao invés de serem cheias de gente e carros, são núcleos povoados por sua energia em movimento. Ligando um chakra ao outro, como rodovias, existem os nadis, canais sutis por onde fluem desde a vitalidade do corpo até nossas emoções. O que chamamos de sentimentos são o resultado desse mecanismo.
Os nadis, também chamados de meridianos, carregam energia por entre um chakra e outro. O que determina o tráfego é uma relação dupla que existe entre os nossos pensamentos e as nossas energias. Quando nossa mente se fixa em alguma coisa, as energias se encaminham, obedientes, para os chakras que correspondem ao que estamos pensando; o inverso é igualmente real, e quando as energias fluem por certas partes da gente, os pensamentos surgem ou são amplificados.
O mecanismo não é difícil de entender. As energias dos chakras e nadis são sutis, invisíveis aos olhos. Mas o exemplo é simples: quando começamos a pensar em comida, o estômago tende a dar sinais de fome; quando temos fome, começamos a pensar em comida. Um lado influencia o outro.
E assim também é com os chakras: eles influenciam os nossos pensamentos e sentimentos, mas também são influenciados por eles. O sistema caminha unido e é até difícil dizer em que lado algo começou, se como energia ou pensamento. Na verdade, pensamento é uma forma de energia correndo por nós.
Quando, por exemplo, estamos fazendo um trabalho intelectual importante, as energias correm em nossos meridianos até o chakra que vibra discernimento e da razão. Ele então brilha forte, gira rápido, como uma cidade cheia de habitantes, as luzes todas acesas. Assim, uma pessoa que tenda a ser bem racional vai ter o chakra da razão bem desenvolvido, sempre bem abastecido, e aí quando algo novo surge — um problema, uma situação boa, o que for — os primeiros pensamentos da pessoa vão ser também racionais, já que é essa a sua capital, onde as energias estão primordialmente focadas.
Os sulcos que isso causa em nosso sistema de energias nos leva a agir de forma mais ou menos previsível. Quem tem só um martelo acha que todo problema é prego; uma pessoa que vibra quase sempre no chakra da raiva e do conflito vai querer sempre brigar. Nós temos canais principais por onde a energia tende a fluir. Mudar isso requer atenção, e um pouco de tempo.
A energia é simples, potente, e neutra. É a maneira que ela se expressa que define os resultados, igual ao que acontece com a eletricidade: não podemos culpá-la por efeitos das máquinas que ela fez mover. Quando movemos os nosso chakras, os abastecemos com energia mesmo sem perceber, e seus efeitos em nós vão além do resultado imediato. Porque as ruas entre eles são alargadas, os nadis se reconfiguram o tempo todo, e quanto mais alimentamos cada chakra, mais ele vai nos influenciar no futuro. Eles são máquinas que não se desligam e que quanto mais crescem, mais importante ficam em nós.
É por isso que temos que mantê-los, todos, bem abastecidos, mantendo o sistema flexível para não ficarmos estagnados em apenas alguns chakras. A maioria das pessoas vive com suas energias girando principalmente em apenas um ou dois deles, vendo tudo por aquele viés limitado. São como sedentários que movem apenas um grupo de músculos, que não se alongam, que não podem correr, e sentem dores por conta do desequilíbrio que criam.
Os chakras humanos são sete: muladhara (memória e relação com a matéria);svadisthana (razão, intelecto e identidade); manipura (determinação, criação e força de vontade); anahata (profundo entendimento, compaixão); vishuddha (poder e amor da alma); ajna (percepção sublime) e sahasrara (ligação com o divino). São, progressivamente, mais sutis e diáfanos, com energias mais fortes, porém menos evidentes na vida material.
O importante de se saber, também, é que temos também sete outros chakras grandes, que não são humanos. São características animais. O que não é ruim; eles fazem parte de nosso sistema. Mas devem ser usados com cuidado, da mesma maneira que nós domamos as nossas tendências instintivas para viver bem em sociedade. Nós aprendemos, já, a controlar o nosso comportamento, de maneira mais repressiva e superficial, mas ainda não somos muito bons em parar de alimentar a fogueira do bicho que há na gente. Como temos poderes humanos, as tendências desses chakras se tornam bem mais nocivas em nós do que são nos animais.
Quando uma pessoa alimenta os chakras animais em si, mas ao mesmo tempo tenta impedir os efeitos disso, o resultado é uma tristeza implosiva ou uma insanidade explosiva.
Os chakras animais são: atala (medo e desejo animalesco); vitala (raiva e agressão); sutala (inveja destrutiva); tatala (confusão e insanidade); rasatala (egoísmo total); mahatala (ausência de auto-consciência) e patala (crueldade extrema). Os dois primeiros são tão úteis quanto uma faca afiada e tão perigosos quanto; os outros são reinos de desespero.
Por natureza, a nossa energia tende a fluir mais para um chakra ou outro. O pensamento os comanda, e quando vemos energia presa em um local em nós que não queremos que ela esteja, podemos fazê-la tomar a estrada, subir em clareza e luz. Cultivar os chakras humanos é a estratégia mais antiga na humanidade de se encontrar paz e alegria. É simples como a agricultura: irrigar com cuidado, cuidar do fluir, impedir a estagnação e a seca.
O poder de decidir é sempre nosso. Um dia, podemos nos deparar com um sistema que precisa de reparos, que nos leva ao chakra do medo mais frequentemente do que devia, que nos prende no intelecto quando queremos sentir amor. Devagar, com empenho, vamos alterando o sistema, de enxada e pá nas mãos, descobrindo as sutilezas e alegrias de energias e chakras mais elevados.
Precisamos retirar os pedágios que existem nos nossos nadis, as idéias pré-concebidas, os preconceitos errados, os arcaicos conceitos. Para que a energia flua como deve em nós, por todos os poros, nas ações e pensamentos; até criar um sorriso cheio de luz e olhos que brilhem como a alma.
Davi Murbach é um metafísico e um místico. Sob o nome Satyanátha, viveu por quase sete anos como monge iniciado no Monastério Hindu de Kauai. Aprendeu técnicas de meditação milenares com a linhagem Saiva Siddhanta dos Nathas do sul da Índia, e esta é a base do seu conhecimento. Estuda sufismo, cristianismo, budismo e mais outrismos com gosto, descobrindo neles linguagens diferentes para falar do mesmo mistério, do mesmo potencial humano, do mesmo Deus.
É um herege rebelde, sujeito perigoso, que prefere a luz a seus reflexos. Sofre de alergia a dogmas. Tem pouca coragem, mas vai assim mesmo, e até o fim. Fala sobre coisas transcendentes e se surpreende quando alguém quer ouvir.
FONTE: http://www.yogapelapaz.com.br/blog/?tag=chakras